E quem quer que olhe pra sua pele
morena delineando a superfície de suas curvas, jamais atentará para as várias
marcas de batalhas, que desobedientes, não sumiram com o tempo. Essas
cicatrizes a tatuaram e a transformaram em mais uma portadora da doença que
assola as pessoas que ousam amar. Ela virou um quadro. Em estado grave. No qual
sua felicidade dividia relutantemente espaço com a agonia em seu peito.
Qualquer um que se julgasse esperto o suficiente pra desvendar o olhar dessa
que lhes encanta com um sorriso doce, contribuiria, mesmo que de leve para o
crescimento pavoroso de suas feridas. Abertas e queridas por ela, pelo simples
fato de faze-la se sentir humana. Ela regozija por ser abençoada a cada dia com
a esperança de achar uma resposta para a sua penosa existência. Se cansa ao
final de cada luta diária, pois não pode salvar o mundo, quando o mesmo se
encontra inteiro dentro de si. E se perde. Educada de nascença, ela pede
licença a abriga todas as dores, amores, cores, sabores, temores. Não poder ajudar
lhe causam tremores e sem perceber, ela entrega seu melhor lugar aos horrores
de ser especial. E novamente ela se divide. Entre os vários caminhos
diferentes, tomados pelos seus sentimentos. Latentes. Dos quais a movem. A sua
vida se resume a isso. A se dopar de uma imensa alegria afim de esconder o que
ninguém enxerga. Se contorcer de dor por dentro, sem saber se terá um dia
alivio e alento. A sua vida se resume a isso. Viver. Rezar. Amar. Chorar.
Dormir. Comer. Pois o resto mesmo, ninguém pode entender.
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