O que lhe falta de dente no
sorriso, sobra de alegria no caminhar. Sobra de pressa nos olhos pequeninos que
se alargam quando um passo em falso ela da. O que lhe falta em experiência, lhe
sobra em essência, em perfume, em cheiro de lavanda, que se espalha pela casa
conforme ela anda, conforme ela canta, grita as palavras que mal, mal são
compreendidas, mas que são gostosas, só por serem ouvidas. O que lhe falta de
destreza, lhe sobra de impaciência, fica nervosa, se irrita quando em pé ela
não se sustenta, mas firme e teimosa ela tenta, se entorta, e a gente de longe
só torce, as vezes ri que não se aguenta. As vezes chama a atenção dela, faz
careta e com ela canta, repete sem zombar dela, sem esperança de que ela
entenda. E nisso ela vai levando, um pé de cada vez, sempre se esforçando,
sempre um passo para frente, bem de leve já caminhando. E como descrever esse
momento? Parece que a qualquer minuto tudo se acabará com o vento. Como é
frágil esse meu amor e como ele me deixa forte, olho pros cabelos dourados da
mãe e só penso no quanto temos sorte, de esperar com a alegria na ponta dos
dedos, que a menina encantada que transborda desejo se sinta à vontade ao
chegar no destino chamado aconchego.
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